Gloriar-se somente na cruz de Cristo

"Que Deus não permita que eu me glorie, a não ser na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, por meio da qual o mundo foi crucificado para mim, e eu para o mundo. Pois em Cristo Jesus, de nada vale ser circuncidado ou não, mas ser nova criatura. E a todos os que andam conforme essa regra, paz sobre eles, e misericórdia, e também sobre o Israel de Deus. De modo que daqui em diante, ninguém me perturbe, pois trago em meu corpo as marcas de Jesus. Irmãos, que a graça de nosso Senhor Jesus Cristo seja com o espírito de vocês. Amém." (Gálatas 6:14-18)

Vimos anteriormente que Paulo condenou aqueles cujo único desejo era ficar em cima do muro com o fim de agradar o mundo e escapar da perseguição. Pois isso fez com que eles torcessem o evangelho, e vemos numerosos exemplos disso hoje em dia. Tendo percebido que a pura doutrina e a verdade de Deus são inaceitáveis ao mundo, mas que homens maus se indignam contra ela, essas pessoas procuram encontrar uma maneira de evitar criar sentimentos ruins e isso resultar em ódio [contra elas]. Sendo assim, se hoje entrevistássemos pessoas com pelo menos algum bom senso, dificilmente encontraríamos uma entre cem delas capaz de admitir que houve erros no papado. A maioria diria que não devemos forçá-los a abandonar tudo e que seria suficiente se eles apenas se livrassem de algumas de suas superstições mais irracionais e absurdas, mesmo que continuassem alimentando muitas outras corrupções. Por quê? Porque, como dissemos, eles desejam ser estimados e grandemente respeitados, e porque não importa para eles trair a pureza do evangelho, contanto que possam permanecer livres da perseguição. O que os motiva, senão o desejo de ser valorizados e de adquirir uma boa reputação? Agora, o diabo, que suscitou tal tipo de conflito desde os dias de Paulo, continua fazendo isso até os dias atuais, e, portanto, precisamos nos armar com essa doutrina. O melhor remédio é o que Paulo propõe aqui: que rejeitemos toda a glória, exceto aquela que está na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo.

Para entender isso claramente, precisamos primeiro lembrar o que está escrito em Jeremias e confirmado aqui por Paulo. Em outras palavras, que toda a glória do homem deve ser rebaixada para que Deus seja exaltado como ele merece. (Jr 9:23, 24). De fato, semelhantemente está escrito que toda a sabedoria que os homens acreditam possuir não é nada e não será levada em conta; deve ser apagada, para que possamos recorrer a Deus, como aquele que possui toda a abundância de bens em si mesmo (Is 29:14; 1 Co 1:19). Devemos reconhecer que toda a sabedoria procede de sua livre graça, para sermos iluminados por seu Espírito Santo e, sendo fracos, fortalecidos por sua força. Por estarmos cheios de corrupção e iniquidade, a justiça em nós deve ser restaurada segundo o dom de Deus.

Agora vamos aos meios. Não basta saber que o Senhor é a nossa luz, que ele é a nossa justiça, a nossa sabedoria e a nossa força; em outras palavras, que em sua pessoa há vida perfeita, alegria e felicidade. Isso não é suficiente, pois ainda existe uma distância muito grande entre nós e ele. No entanto, precisamos saber como e por quais meios podemos obter todas as graças que buscamos em Deus. Sabemos que todas elas nos são comunicadas  em Jesus Cristo, pois ele desceu até aqui em baixo, fez de si mesmo insignificante e foi crucificado de bom grado por nossa causa. Portanto, uma vez que devemos extrair tudo aquilo de que necessitamos do Senhor Jesus Cristo, podemos entender por que razão Paulo diz que buscava se gloriar apenas na cruz de nosso Senhor. Por quê? Porque ele sofreu uma morte cruel e amarga, e até se expôs ao julgamento de Deus em nosso favor, recebendo toda a nossa maldição, e dessa maneira, ele nos foi dado como a nossa sabedoria, justiça, santidade, força e tudo aquilo de que precisamos.

Portanto, em primeiro lugar, devemos saber quem somos, antes de sermos capazes de evitar toda glória [humana] e nos alicerçar no Senhor Jesus Cristo. Pois vemos muitas pessoas inchadas de orgulho sem qualquer motivo para isso. Tudo o que elas imaginam ser verdade sobre si mesmas não passa de vento e fumaça. Contudo, pelo fato de não terem se examinado adequadamente para ver como realmente são, não buscaram Jesus Cristo; esses são os hipócritas e impostores que se encontram inflados de presunção em razão de seus “méritos”. Dessa forma, como eu disse, devemos considerar a nossa condição e ver a extensão de nossa miséria, isto é, até o momento em que o Senhor Jesus tenha misericórdia de nós. É assim que podemos nos preparar para buscá-lo. Esse é o primeiro ponto.

Entretanto, isso não é tudo. Pois existem alguns que confessam que são pecadores e que não têm nada além de vaidade dentro de si, e ainda assim continuam a se afundar na sujeira. Por quê? Porque eles não concebem o julgamento de Deus, e suas mentes foram entorpecidas pelo mundo, para se manterem dormindo. Todos aqueles que buscam prazeres, que se lançam à embriaguez, à prostituição ou a coisas do tipo, são indesculpáveis por sua maldade e, de fato, devem sentir vergonha dela, todavia parecem ter prazer nos pecados e permanecem neles como que endurecidos. Por quê? Eles foram envenenados pelo mundo, e tiveram os olhos vendados pelo diabo, de modo que não são capazes de enxergar que um dia devem prestar contas de si mesmos. Estupidamente, foram levados a acreditar que sempre permanecerão como estão, perseguindo o que é mal, e pensam que nunca terão de suspirar e tremer, mas apenas gargalhar, como se procurassem intencionalmente demonstrar desprezo por Deus. Assim, podemos ver como é que alguns são impedidos (de fato, são totalmente incapacitados) de virem a Jesus Cristo, seja porque eles presumem possuir seu próprio conhecimento, ou porque estão perseguindo uma ideia falsa que Satanás colocou em suas mentes, ou porque acham que são sábios o bastante e não precisam de Jesus Cristo. Estas são as razões pelas quais eles o desprezam. Outros, dos quais há um número infinito, sabem que são pecadores miseráveis, e, ainda assim, não buscam um remédio.

Por quê? Porque este mundo os tem em suas mãos, e eles estão tão envolvidos nele que não conseguem erguer os olhos para o alto ou elevar as suas mentes de maneira a buscar o remédio que foi fornecido em Jesus Cristo.

Devemos, portanto, estar ainda mais preparados para meditar sobre o que eu disse, isto é, com o fim de nos livrarmos de todo orgulho e presunção e sentirmos tamanha vergonha que não descansemos até encontrarmos alívio no Senhor Jesus Cristo.  Que possamos abrir nossos olhos para ver a nossa depravação e nos envergonharmos dela, e não somente isso, mas também reconhecer que esta vida não é nada, e que Deus nos colocou aqui em uma jornada, com o objetivo de nos testar para ver se de fato o seguimos ou não. Que cada um de nós, portanto, se separe para ponderar, de manhã e de noite, acerca dos próprios pecados, e que estes sejam como aguilhões a nos cutucar e a nos encorajar a buscarmos a Deus. Que não sejamos como animais brutos, presos a este mundo, mas que nossa necessidade nos leve a nos achegarmos ao Senhor Jesus Cristo.

É isso que significa se gloriar na cruz de Jesus Cristo. Paulo fala especificamente da cruz aqui, porque ele procura derrubar e pisar aos pés toda arrogância humana. Pois sempre temos o desejo de ser “alguém”, de possuir algum valor em nós mesmos e manter certa dignidade. Portanto, para nos livrar de um desejo tão iníquo, Paulo nos mostra que Jesus Cristo, o Filho de Deus, deve ser o nosso único motivo de glória, porque ele foi crucificado por nós. Depois disso, ele acrescenta que seremos crucificados para o mundo, e o mundo para nós, quando aprendermos a nos gloriar apenas na graça trazida por nosso Senhor Jesus Cristo. Como? Aqueles que não estão crucificados para o mundo, isto é, os que desejam ter uma posição de certa autoridade, serem importantes, e que demandam ser mantidos em honra e exaltação, em outras palavras, as pessoas que são atraídas para cá, para lá e para toda parte por suas concupiscências, certamente ainda não sabem o que é se gloriar na cruz de Jesus Cristo, pois começam no ponto errado. Elas estão confusas em si mesmas.

Portanto,  Paulo  pode  afirmar  com  confiança que, quando sua glória foi fundamentada na cruz do Senhor Jesus Cristo, ele abandonou e renunciou o mundo. Com “mundo”, ele quer dizer tudo o que é atraente à nossa carne, aos homens que não pensam em Deus nem na vida eterna, mas estão entregues à avareza ou à ambição. Cada um é controlado por seus próprios instintos naturais, e ninguém olha para além deste mundo. Quando os homens seguem suas inclinações e Deus não os tem tocado ainda com seu Santo Espírito ou atraído suas almas para si, podemos afirmar com verdade que, embora todos tenham se desviado e extraviado, ainda há uma grande diversidade em seus afetos, de tal modo que, quando examinamos o assunto, descobrimos que um está indo em certa direção, enquanto outro está se movendo em direção completamente oposta. Assim, parece que os homens são muito diferentes uns dos outros. No entanto, eles são todos semelhantes em um aspecto, isto é, possuem o desejo de ser importantes aos olhos do mundo e estão entregues ao prazer individualista e à busca por benefícios próprios. Em outras palavras, eles estão tão envolvidos nas coisas daqui debaixo que não se importam se estão separados de Deus. Mas Paulo diz que, se toda a nossa glória está em Jesus Cristo, sabendo que por meio de sua cruz ele nos dedicou a Deus Pai e garantiu o reino dos céus para nós, então será fácil nos afastarmos do mundo e cortarmos os laços com ele, por assim dizer.

Por quê? Qualquer um que tenha sido tocado profundamente e esmagado pelo senso de seu próprio pecado certamente buscará a graça que lhe é oferecida em Jesus Cristo, e o mundo não lhe valerá nada.

De fato, tratamos todas as riquezas espirituais que Deus nos oferece e nos convida a partilhar como se não fossem nada, porque, se comparadas aos enganos e tentações de Satanás, não lhes damos nenhum valor. O que é este mundo, se o contemplamos como ele de fato é? Nenhum de nós percebe como nossas vidas são frágeis, as quais não são nada além de fumaça que passa flutuando e depois desaparece. Os homens ainda ardem em luxúria e são levados e arrebatados por ela. Quanto a Deus, ele brada:

“Povo miserável! Vocês têm menos entendimento que as crianças, pois se ocupam com pedaços de palha, lixo sem sentido e todo tipo de bobagem, e se apegam de todo coração a essas coisas. No entanto, quando eu lhe ofereço a perfeita felicidade, vocês a ignoram; para vocês, isso não é importante”. Portanto, a razão de sermos tão frios e lentos para aceitar os tesouros que Deus nos oferece é porque estamos preocupados com as coisas deste mundo. De fato, atribuímos muito valor a este mundo. O que nos leva a fazer isso? É porque nós não sabemos quão inestimáveis são as riquezas que nos têm sido ofertadas por Deus.

Portanto, juntemos essas duas coisas: a saber, vamos ser crucificados para o mundo, e o mundo para nós, nos gloriando unicamente em Jesus Cristo crucificado. Agora, é mais fácil dizer do que fazer, e, no entanto, cada um de nós, onde quer que estejamos, deve  se esforçar para cumpri-lo; depois de ouvir essa doutrina, é nosso dever colocá-la em prática.

Pois se formos estimados e considerados cristãos diante de Deus e de seus anjos, devemos nos conformar com o que Paulo nos diz aqui; de fato, se não tivéssemos outra mentalidade, encontraríamos muitas oportunidades de fazê-lo, como já disse. Pois todos aqueles que tão somente olharem para dentro de si mesmos e considerarem como realmente são, e em que condição se encontram, estando ainda separados de Jesus Cristo, ficarão aterrorizados ao sentir a ira de Deus que merecem. Eles sentirão que estão arruinados por conta de seu estado amaldiçoado, e que seria melhor se a Terra os engolisse cem vezes, do que permanecer debaixo dessa maldição por um único dia, como inimigos de Deus, incapazes de escapar de sua mão. Devemos, portanto, aprender a nos examinar. Aqueles que desejam se adornar de acordo com este mundo, especialmente as mulheres, se olharão no espelho com grande curiosidade e preocupação. No entanto, nossa miséria e impureza não serão refletidas lá, de modo a nos humilhar verdadeiramente diante de Deus, ou nos fazer ponderar acerca daquilo em que devemos nos gloriar. Aquele que reconhece sua vergonha e ignomínia certamente buscará a cura, se é que o Espírito de Deus está trabalhando profundamente dentro dessa pessoa, e ela não está (como já mencionei) envenenada por Satanás. Devemos, portanto, aprender a nos examinar sinceramente, sem bajulação, e quando tivermos reconhecido nossa pobreza e miséria, nos dirigir até o Senhor Jesus Cristo. Visto que, por meio da cruz, toda arrogância, mérito próprio e orgulho são descartados, sejamos verdadeiramente crucificados para o mundo, e que ele não tenha nenhum valor para nós.

Agora, quando afirma que o mundo foi crucificado para ele e ele para o mundo, é certo que Paulo queria dizer a mesma coisa, mas ele deseja reforçar a ideia de que podemos realmente renunciar a este mundo e ser separados dele, ao estarmos crucificados para nós mesmos no que diz respeito ao presente século. Significa mortificar todos os nossos desejos repugnantes [os quais possuem grande poder sobre nós e nos consomem como uma chama ardente, nos empurrando em uma e depois em outra direção]; isso fazemos pelo fato de sabermos que o Filho de Deus teve de sofrer uma morte tão humilhante em nosso lugar. Quem é que busca alcançar triunfos e realizar atos de bravura neste mundo, quando sabe que Aquele que é o cabeça dos anjos, a quem pertence toda a glória, majestade e autoridade, foi pendurado em um madeiro, amaldiçoado e odiado por nossa causa (Gl 3:14)? Dessa maneira, todos as nossas concupiscências devem ser mortificadas; e assim, que a paixão e a morte do Senhor Jesus Cristo atuem de forma tão eficaz em  nossos corações, que os nossos desejos não se agitem impacientemente dentro de nós como antes. Esse é o primeiro ponto.

Além disso, o mundo também deve estar crucificado para nós. Como é isso? Em comparação com as riquezas espirituais que Jesus Cristo nos traz, e das quais desfrutamos por meio dele, devemos considerar as coisas deste mundo como palha e corrupção, uma vez que todas elas são corruptíveis. Além disso, tudo aquilo que os homens cobiçam com tal zelo e determinação que ficam totalmente  embaraçados  e  presos  por  conta  disso, nada mais é do que as armadilhas que Satanás espalhou para apanhá-los. Por acaso não são ilusões e enganos? Sim, isso é mais do que certo. Sendo assim, vamos aprender que o mundo deve ser considerado como nada para nós, e assim estaremos completamente persuadidos e seguros do fato de que Deus é misericordioso conosco e nos reconhece como seus filhos e herdeiros; ele nos abençoou e sem a sua bênção seríamos os mais miseráveis dos homens.  Portanto, devemos passar brevemente por este mundo e não ficar apegados a ele ou presos por qualquer coisa; esse deve ser sempre o nosso objetivo.

Sabemos que devemos nos apressar para chegar ao lugar para o qual Deus nos chamou e, se ficarmos enredados pelo amor deste mundo, seremos separados de nosso Deus. É disso que devemos nos lembrar nesta passagem.

Nesse ponto, Paulo acrescenta que “em Cristo Jesus de nada vale a circuncisão ou a incircuncisão. O que importa é ser uma nova criatura”. É como se ele estivesse nos dizendo que aqueles que perturbavam a igreja em seus dias faziam isso motivados apenas pela ambição. Se a igreja não cresceu, e ninguém recebeu qualquer benefício resultante da grande confusão que aqueles homens causaram, então certamente isso prova que tudo que eles estavam tentando fazer era substituir o Senhor Jesus Cristo. Pois qual deve ser o nosso objetivo, senão ver o Filho de Deus reinando em nosso meio, ser governados pela Palavra do seu evangelho, e conhecer seu poder, de modo que todos nós, grandes e pequenos, possamos depositar a nossa inteira confiança nele? Consequentemente, almejamos ter toda a nossa vida transformada, para que possamos viver em obediência a Deus e nos submeter à sua Palavra. Pois o templo espiritual de Deus é construído sobre uma fé e uma vida nova; a fé nos leva a prestar culto a Deus por todas as suas riquezas, e a recorrer a ele e a entoar seus louvores – invocar seu santo nome quando nos reunimos. É assim que somos edificados de modo a nos tornar o templo de Deus.

No entanto, também devemos ser renovados em nosso estilo de vida e pacientemente aprender a negar a nós mesmos e a dedicar nossas vidas ao Senhor. Essa deve ser a mensagem daqueles que têm a responsabilidade de ensinar. Aqueles que não visam essas coisas revelam que não possuem a intenção de servir ao Senhor Jesus Cristo. Assim, Paulo declara que a única coisa importante é ser uma nova criatura em Jesus Cristo. Em outras palavras, devemos chegar ao ponto em que, como vimos na Segunda Carta aos Coríntios, somos novas criaturas, caso desejamos ser estimados “em Jesus Cristo” (2 Co 5:17). Pois se alguém se vangloria de ser o mais eloquente, outro de ser muito esperto, e outro por ser um grande estudioso, ou de ter boas maneiras, tudo é vaidade. Vamos, portanto, aprender a renunciar a nós mesmos e a este mundo, e nos dedicar àquele que nos comprou com o fim de nos tornar livres. Pois é justo que Jesus Cristo, o qual nos obteve a tal custo, possua as nossas almas e se regozije grandemente em nós. Isso não pode ser alcançado, a menos que cada um de nós negue-se a si mesmo e rejeite tudo aquilo que poderia nos deter no meio dos homens. É isso que precisamos observar.

Paulo fala aqui de circuncisão e incircuncisão porque o conflito e a discussão que ele tinha (como vimos anteriormente) diziam respeito à lei cerimonial, com a qual ele lida aqui por meio do exemplo da circuncisão. Pois os judeus procuravam manter todas as tipologias e sombras que foram projetadas para durar apenas por um tempo. Dessa forma, Paulo, ridicularizando tudo isso, diz que nosso Senhor Jesus Cristo veio, não para nos encorajar a guardar essas figuras antigas, mas porque o véu do templo foi rasgado em dois e porque ele é, em si mesmo, o corpo e a substância de todas as sombras que existiam sob a lei, e agora devemos nos contentar com ele, não tendo mais a circuncisão nenhum valor.

Tiraremos maior proveito dessa passagem se a aplicarmos ao que vemos hoje. Pois, no papado, existem muitos rituais sem sentido nos quais eles depositam toda a sua confiança com o fim de serem santos. Quando perguntamos aos papistas como é possível merecer a  graça de Deus e obter a remissão de seus pecados, eles se vangloriam de possuir água benta, velas, incenso, órgãos e coros, peregrinações, isso e aquilo. Além disso, eles têm suas devoções tolas, que envolvem perambular de altar em altar e de capela em capela. E então, ainda têm o dever, é claro, de pagar pela celebração de um bom número de missas. Em resumo, tudo o que os papistas chamam de serviço a Deus nada mais é do que um labirinto, ou um abismo, de superstições que eles criaram em suas próprias mentes. Vamos agora considerar que valor essas coisas possuem. Deus não fez qualquer menção delas; mas foram inventadas por homens, sussurradas por Satanás em seus ouvidos com o objetivo de corromper o verdadeiro serviço a Deus.

No entanto, os papistas consideram que não pode haver religião, nem fé, nem serviço a Deus, ou zelo, a menos que também sejamos levados por todo o absurdo deles. Ainda assim, Paulo, falando das cerimônias que Deus tinha ordenado na lei, diz que elas não significam mais nada. Por quê? Porque Deus fica contente se o servirmos com uma consciência pura, e o invocarmos, tendo confiança nele, sabendo que todas as coisas boas provêm de sua pessoa. Devemos, antes, viver de maneira íntegra e honesta uns com os outros, sabendo que o amor é o vínculo da perfeição e o fim da lei; vamos nos dedicar de tal forma a nosso Deus que vivamos de maneira casta e em toda santidade, aguardando a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo, como diz Tito (Tt 2: 12-13). Este é o ponto de partida da santidade e da perfeição, conforme declarado por Deus em sua Palavra.

No entanto, os papistas dirão, em contrapartida: “O quê! E o que acontecerá com nossas adoráveis devoções? Todas elas serão abolidas? Seria melhor tirar Deus do céu!” Isso revela a loucura dos papistas. Vimos o que Paulo expôs aqui; que mesmo que os homens estejam tão enganados por suas próprias invenções que pensam oferecer a Deus coisas maravilhosas e ficam presos a essas frivolidades sem sentido, todas essas coisas são inúteis. Quem declarou isso? Deus, pela boca de Paulo. O que devemos ser, então? Novas criaturas. O que é uma nova criatura? Devemos começar examinando nossas vidas e vendo a nós mesmos como nada. E então é nosso dever oferecer a Deus os sacrifícios espirituais que devemos a ele, apresentando- nos diante de sua face para que ele tenha piedade e misericórdia de nossa miséria, e nos ajude. Que possamos estar prontos para segui-lo como ele nos chama, não possuindo outra fonte de sabedoria, senão unicamente a sua Palavra, sabendo que ele não deseja ser servido com pompa ou com belas e exuberantes aparências externas que são atraentes para o mundo. Ele fica satisfeito se lhe dedicarmos nossos pensamentos e afetos com sinceridade. Além disso, é nossa responsabilidade compreender o que Paulo está dizendo aqui e pôr em prática seus ensinamentos; pois é certo que aqueles que se recusam a se vangloriar em seus próprios pecados e que olham para Deus, sabendo que devem comparecer diante do seu tribunal, abandonarão toda glória em si mesmos.

Ademais,   eles   terão   conhecimento   daquilo  que Deus exige em sua Palavra, no que se deleita o Senhor, e de que modo deve ser servido, para que não mais corram o risco de serem enganados pelas insignificantes futilidades  perseguidas  pelos  hipócritas.  Pois  é  mais do que certo que quando os papistas atormentam a si mesmos com o fim de servir a Deus (como vemos), é apenas para que ele os considere inocentes, e para que possam escapar de sua mão e não serem constrangidos a servi-lo da forma como ele ordenou; pois eles desprezam toda a lei.

Ainda assim, existem muitas coisas que eles consideram vitais e que desejam que Deus aceite. Mas (como eu disse), o principal objetivo dessas coisas é levá- los a acreditar que o dever que eles têm para com Deus foi cumprido, de modo que ele não os pressione tanto. Enquanto isso, seguem seu próprio caminho, concedem a si mesmos uma grande licença e a absolvição de todos os seus pecados. Eles pensam que, uma vez que trouxeram algo a Deus (isto é, uma mera sombra), ele não se atreveria a falar nenhuma palavra contra eles e [por isso] deve permanecer calado. Agora vimos a intenção de Paulo aqui. Finalmente, ele acrescenta: “E a todos os que andam de acordo com essa regra, a paz esteja com eles, e a misericórdia sobre o Israel de Deus”. Ao falar dessa “regra”, ele quer dizer que os homens podem acreditar naquilo que escolherem acreditar, todavia, Deus não se curvará a eles, pois é imutável e não se renderá à loucura ou será obrigado a recuar. Paulo nos diz que essa mudança é impossível. Aconteça o que acontecer, a lei que Deus estabeleceu permanece inalterada. Isso é algo que todos nós aceitamos como se estivesse claro diante dos nossos olhos. Pois quem não aceitaria prontamente o fato de que Deus é superior a nós? Até mesmo sentimos que dizer o contrário é blasfemar. Assim, todos temos certeza de que Deus deve reinar e que a sua lei deve ser nossa regra de vida. No entanto, ao mesmo tempo, veja como os homens se permitem viver sem restrições. Cada pessoa inventa isso e aquilo, e logo depois espera que todos os demais homens se apeguem às suas invenções. Todo mundo deseja ter suas próprias regras separadas. Embora possa ser verdade que nem todos no papado seguem as regras de São Francisco, ou de São Domingos, ainda não existe uma única velha tola ou fanática no papado que não possua  sua própria lei. Assim como não há um único jovem que também não tenha sua própria regra de vida. Pois todos dirão: “É assim que cumpro minhas devoções”. E quando eles usam a palavra “devoção”, praticamente empurram Deus para segundo plano, porque na verdade estão dizendo:

“Devo ter a liberdade de fazer o que penso ser bom, e Deus deve se contentar com isso”.

Que audácia diabólica os homens têm! Eles se comprometem aqui e ali, falam descontroladamente, desviam-se primeiro para um lado e depois para o outro. É como se eles mesmos construíssem caminhos tortuosos e sinuosos, esperando que Deus distorça suas leis e seja flexível o suficiente para se curvar, com o fim de adequar- se às opiniões deles. Portanto, temos mais uma razão para observar cuidadosamente o que é dito aqui, isto é, que os homens podem atormentar a si mesmos como quiserem, mas a regra de Deus permanece e seguirá seu próprio curso e direção.

Que regra é essa? É aquela que almejamos pela perfeição revelada por nosso Senhor Jesus no evangelho; não que possamos alcançá-la durante nossas vidas, todavia, que sejamos capazes de não nos desviar de nenhuma forma para a direita ou para a esquerda, mas para sempre buscar o objetivo que nos foi revelado por Deus. É dessa maneira que podemos ser novas criaturas, negando a nós mesmos e nos dedicando totalmente a Deus. Como esse é o caso, tomemos a decisão de nos submeter a essa regra e conformar nossas vidas a ela. Pois cada um de nós rapidamente corre para cá ou para lá; mas, para evitar que nos desviemos, precisamos aprender a nos apegar a tudo o que Deus revela e ensina em sua Palavra. Agora, quando Paulo pede que a paz e a misericórdia estejam com essas pessoas, isso é para demonstrar que, ainda que todo o mundo em sua loucura nos condenasse, poderíamos ignorá-lo e não nos preocupar com ele, enquanto seguimos o nosso próprio caminho. Se Deus é por nós, isso deve ser suficiente. Pois se somos abalados pelos tolos julgamentos do mundo e pelas opiniões que eles espalham sobre nós, então não estamos prestando a Deus a honra que lhe é devida. Se os homens dizem a nosso respeito: “Essas pessoas não estão vivendo boas vidas”, e ficamos chateados e procuramos nos adaptar aos seus gostos, certamente estaremos nos afastando do Senhor.

Portanto, tomemos nota do que Paulo diz aqui, que é:  se  os homens nos  condenam e  encontram coisas   para criticar naquilo que fazemos (e é óbvio que o mundo nunca estará em harmonia com Deus), isso não deve significar nada para nós. Deveria nos bastar o fato de que o Pai celestial nos abençoou e nos oferece completa felicidade nesta palavra “paz”, demonstrando que ele terá misericórdia de nós, por mais miseráveis que sejamos, e ainda que os outros possam cuspir em nossa face. Embora não tenhamos todas as virtudes que são exigidas de nós, ainda assim, se temos a intenção de seguir a Deus, sempre o acharemos misericordioso.

Ele nos apoia em nossa fraqueza e nos auxilia em nossa miséria. Se possuímos todas essas coisas, então isso deve ser suficiente. Por outro lado, embora o Espírito Santo abençoe aqueles que se submetem à regra de Deus, também sabemos que ele amaldiçoa, detesta e abomina todos aqueles que se perdem e que fazem de sua própria imaginação a sua regra. Eles procuram ter liberdade para seguir o que lhes parece correto, e se tornam endurecidos contra a Palavra de Deus. Por mais estimados que sejam pelo mundo, e por mais que estejam envenenados com orgulho e presunção, pensando que são sempre tão importantes, podemos ver que Deus ainda os considera detestáveis. É disso que precisamos nos lembrar: existe apenas uma regra pela qual devemos viver e que está contida no evangelho.

Para onde essa regra nos conduz? Ela garantirá que não ofereçamos a Deus o que parece certo aos nossos olhos, ou aquilo que forjamos em nossas próprias cabeças.

Em vez disso, nos submeteremos totalmente a ele e à sua Palavra. Reconheceremos que em Jesus Cristo temos toda perfeição. Assim, ficaremos satisfeitos unicamente com ele, especialmente porque sabemos que ele é misericordioso o suficiente para nos mostrar piedade, e abençoar nossas vidas, enchendo-as de felicidade, se o seguirmos até o local para onde ele nos chama. Semelhantemente, se ocorrer o contrário, seremos amaldiçoados, a menos que sigamos a regra de que Paulo fala aqui, independentemente da opinião que o mundo tenha de nós, ou por mais que ele possa nos elogiar. Agora ele acrescenta “o Israel de Deus”, para provar que aqueles que servem ao Senhor espiritualmente, ele sempre terá o prazer de reconhecê-los como seu povo. Pois os inimigos de Paulo, contra os quais ele discutiu durante a epístola inteira, desejavam a permanência de todas as cerimônias, pois lhes parecia que eram essas as marcas da igreja verdadeira, assim como os papistas hoje em dia querem manter o óleo sagrado ou isso e aquilo outro. Todavia, os inimigos de Paulo tinham fundamentos muito mais fortes do que os papistas, e, em comparação a estes, o caso deles era de maior dimensão. No entanto, Paulo ainda rejeita tudo e diz que Deus não se importa com nada disso. Embora seja verdade que ele ordenou as sombras da lei por um tempo, e elas tiveram sua função, a qual era guiar as pessoas ao Senhor Jesus Cristo, agora que temos a substância e a verdade nele, devemos abandonar tudo isso. Temos uma razão ainda mais forte, portanto, para dizer que o Israel de Deus não são aqueles que se apresentam com grande esplendor aos olhos dos homens, mas aqueles que carregam a verdadeira marca de Deus.

Pois quando os papistas nos falam da igreja, isso deve incluir o Papa com suas três coroas e os bispos, que se disfarçam para encenar a sua farsa. São como animais com chifres, e tudo acerca deles brilha; os sacerdotes e os monges estão em sua presença e também ofuscam os olhos dos homens simples. É nisso que a igreja de Deus consiste, de acordo com os papistas: em pompa e frivolidades tolas e inúteis. O que dizer dos sacramentos? Não, é necessário isso e mais aquilo [argumentam] – em resumo, eles possuem suas próprias marcas, as quais parecem bastante aceitáveis para eles.

No entanto, devemos olhar para o evangelho. O que encontramos lá? Toda a simplicidade. Deus não deseja que aqueles que pregam sua Palavra e administram seus sacramentos usem fantasias ou façam tanto alarde. Ele também não quer que os sacramentos sejam corrompidos por invenções humanas, porque todas essas coisas são inúteis para Deus. Vamos, portanto, guardar a definição que Paulo nos dá aqui da igreja verdadeira, para que fiquemos indiferentes quando as pessoas nos disserem: “Veja, temos muitas coisas bonitas aqui”. Isso é verdade, se julgarmos de acordo com nossos sentidos naturais, pois somos carnais e terrenos e, portanto, mais inclinados a seguir o que parece belo aos nossos sentidos. Mas não cabe a nós decidir como servir a Deus; é nosso dever nos apegar àquilo que ele proclamou, porque seu decreto é irrevogável e devemos encontrar toda a nossa sabedoria em Jesus Cristo. Isso só é possível acontecer se o obedecermos, e não antes disso. Assim, precisamos reconhecer que não devemos mais nos apegar às coisas externas que ele ordenou na época da lei; mas nos contentar apenas com Jesus Cristo e com a perfeição que está nele.

Notemos outra coisa dita por ele neste  momento: “A graça de nosso Senhor Jesus Cristo esteja com o espírito de vocês”. Ele expõe aqui que o mundo, devido à sua ingratidão, não pensa nas riquezas que são oferecidas em Jesus Cristo. O evangelho é pregado com bastante frequência e, no entanto, todos nos afastamos dele e damos as costas, como se estivéssemos decididos a abandonar o bom caminho que leva à salvação e a nos lançar de cabeça à ruína e à perdição: Qual é a razão disso? É porque nossos espíritos estão vazios e o diabo sempre encontra uma abertura neles; ele nos seduz, nos provoca e nos faz flutuar no ar. De fato, enquanto a graça de nosso Senhor Jesus não estiver com nosso espírito, somos como canas oscilantes, sem firmeza ou  fundamento. É isso que precisamos ansiar, que Deus não somente derrame sua graça sobre nós, mas também que possamos recebê-la em nosso espírito e coração; nosso espírito deve se tornar o lugar onde ele fixa suas raízes e seu trono, para que não fiquemos presos a esta terra, mas elevemos nossos afetos e mentes ao Pai.

Agora, porque nunca haverá um tempo em que essa doutrina escapará de sofrer oposição, aqui Paulo desafia aqueles que se levantariam contra ela e diz: “A partir de agora ninguém mais me perturbe: pois eu carrego no meu corpo as marcas do Senhor Jesus”. Quando ele menciona as marcas de Jesus Cristo, ele as coloca em contraste com todo o arsenal de príncipes, todos os seus diademas e cetros, e com tudo aquilo que eles possuem e que lhes confere importância e lhes permite obter a adoração e a reverência de todos. Quando um príncipe deseja ser visto no controle de seu país, ele deve estar vestido de tal maneira que ninguém ouse olhá-lo, por medo de ficar deslumbrado. Eles fazem isso com muita frequência porque não há nada neles mesmos digno de alguma estima e, portanto, precisam confiar nesses meios; o mesmo se aplica às pessoas do mundo que se dedicam à ostentação e à valentia, e que fazem uso disso e daquilo para adquirir uma boa reputação. Em resumo, o homem mundano usará todos os meios para ser notado, embora essas coisas sejam vaidade. Mas Paulo demonstra que as marcas de nosso Senhor Jesus Cristo, como sabemos, valem muito mais e são bem mais preciosas, possuindo em si mesmas, maior beleza do que tudo aquilo que é amado pelo mundo.

Contudo, precisamos considerar o que se entende por “marcas”. Ele já nos explicou isso antes, quando disse que foi espancado várias vezes. Foi apedrejado em um lugar, preso em outro, sofreu fome e sede (2 Co 11: 23-27).

Em outras palavras, o apóstolo foi considerado repugnante e, portanto, foi rejeitado. De acordo com o mundo, devemos fugir de tamanha ignomínia. No entanto, Paulo diz que essas marcas valem mais do que toda a honra e o esplendor de que poderíamos desfrutar. Ele diz que, por possuir essas marcas, os outros não  devem “perturbá-lo”, impedindo-o de seguir seu caminho e cumprir seu dever.

Agora, a intenção de Paulo nesta passagem tem sido, em primeiro lugar, mostrar que se somos cristãos e fazemos parte da verdadeira igreja de Deus, é nosso dever obedecer à ordem de nos unirmos uns aos outros. Como? Não com cada pessoa seguindo sua própria imaginação; pois de fato há muitos homens que têm um espírito perverso, o qual lhes impossibilita de cooperar uns com os outros. Essas pessoas procuram manter-se separadas de todos os demais, como cavalos selvagens, e espera-se que existam mosteiros e conventos para tais, os quais se recusam a se unir a outras pessoas de acordo com a ordem dada à igreja. Assim, tendo se separado por seu orgulho da companhia dos crentes, tudo que podem realmente se tornar é monges do diabo! Seja qual for o caso, sabemos por que eles se escondem: é porque o diabo os tem em suas garras e os domina. Ele simplesmente procura convencê-los a viver separadamente dos outros, com o fim de eventualmente desviá-los de Deus.

Em segundo lugar, Paulo nos mostra aqui que devemos procurar manter essa “regra”; o Senhor Jesus deve ser nosso exemplo, e devemos buscar nos conformar à sua imagem. Quando ele falar, que possamos nos submeter a seus ensinamentos, de modo que cada um de nós cumpra suas ordens. Além disso, vamos nos ajudar. Pois podemos nos vangloriar da perseguição, ou disso ou daquilo, mas, a menos que procuremos ajudar outras pessoas a promover a construção do templo espiritual, é certo que ainda estamos servindo a Satanás e somos como escravos sob seu governo tirânico. Vamos aprender a possuir uma mesma mente, unidos uns aos outros, à medida que nos submetemos ao nosso Senhor Jesus Cristo. Ademais, que aqueles que são altruístas e fiéis em sua caminhada com Deus possam desprezar todas essas pessoas pomposas que desejam se exaltar em seu orgulho, acrescentando isto ou aquilo; pois Jesus Cristo sempre reconhece suas próprias marcas. Em outras palavras, por mais desprezíveis que sejamos aos olhos do mundo, sempre seremos reconhecidos pelo Filho de Deus. Portanto, continuemos em nossa caminhada e que aqueles que procuram nos impedir saibam que Deus os derrotará, como vimos anteriormente (Gl 5:12).

É justo que as pessoas que perturbam a unidade da igreja e se recusam a servir de acordo com sua capacidade para o avanço do reino de nosso Senhor Jesus Cristo sejam envergonhadas e espalhadas. Deus deve levá-las à ruína por causa de seu orgulho e presunção. É disso que precisamos nos lembrar desta passagem, se desejamos continuar  a  desfrutar das riquezas que possuímos, as quais foram compradas para nós a um custo tão alto, através da morte e paixão de nosso Senhor Jesus Cristo, e que são diariamente oferecidas a nós por meio do evangelho.

Agora, vamos nos prostrar diante da majestade de nosso grande Deus, reconhecendo nossos pecados e orando para que eles nos entristeçam tanto que sejamos obrigados a tremer e pedir perdão. E assim seremos transformados através do verdadeiro arrependimento e habilitados a lutar contra todos os nossos vícios e todas as corrupções de nossa carne, até que ele nos liberte completamente deles; e então o Senhor nos vestirá com a sua justiça. Assim, todos dizemos: Deus Todo-Poderoso e nosso Pai celestial, Amém.

 

João Calvino
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